terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Ho troppi pensieri in un solo capo

Ciao!

Já não estou a escrever para o trabalho de semiótica, mas memso assim vou citar. Vou citar a Inês Rocha, neste caso, que diz que já não sabe falar sem ironia. Apoderou-se de nós, é um facto. Está presente nos assuntos sérios e nos menos sérios.

Um dia estamos sentadas em volta de uma mesa e alguém fala sobre um assunto sério, daqueles que peocupa, que dói e remói e faz o coração ficar apertadinho. Não sei bem onde, algures perto dos pulmões, acho.

As reacções: comentários num tom de voz baixo enquanto as cascas das tangerinas são cortadas em pedacinhos, ou com as mãos ou com a faca do jantar.

E, de repente, começamos aos gritos outra vez.Vivemos (em tempos!) no Porto, e as pessoas falam alto e têm um sotaque acentuado.

Entretanto eu vou construindo pequenas – grandes histórias, e elas também. Depois reunimo-nos, e contamos as pequenas – grandes histórias umas às outras, e, entre a ironia habitual, lá nos exprimimos como queremos. A verdade.

A verdade é que nesta casa eramos quatro meninas, mais todos os vizinhos de Erasmus à nossa volta, numa comunidade que já não era só de portugueses, mas que teria sempre como ponto de partida a Comunidade dos Portugueses em Roma. Eramos só nós as quatro e todas aquelas caras conhecidas a uma ou duas portas de distância, que já faziam parte de nós.

Curiosamente, a verdade é que nunca mais vamos ser.

Arrivederci!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Esame

Ciao!

Passaram 11 dias e eu não sei se sinto que passaram lentamente ou rápido demais. Estou confusa e cansada, mas feliz. Estou bem e hoje tenho finalmente tempo para escrever, e quero partilhar um novo mês, de um novo ano em Roma, a cidade que agora também é minha.

Pela primeira vez, festejei a passagem de ano fora de Portugal. Sem a minha família por perto, nem muitos dos meus amigos do costume, mas com alguns membros da Comunidade dos Portugueses em Roma e uma série de italianos e outros estrangeiros que tornaram esta experiência única e especial.

Em primeiro lugar, confesso-vos que os italianos são piromaníacos. Pelo menos a julgar pela quantidade de “bombas” que atiram durante todo o dia 31 de Dezembro, principalmente à noite. Quando chegámos ao Coliseu, eram cerca das 10 e meia, rebentavam foguetes por todo o lado, e o barulho era tão ensurdecedor que parecia, mesmo, que o Coliseu ia ruir. E eu, que tenho medo de foguetes, aninhava-me no meu casaco, e, entre momentos de pânico, lá me deixava levar pela animação das centenas de pessoas, partilhava bebidas e sorria para as fotografias.

À meia-noite o fogo-de-artíficio rebentou às portas do coliseu. A rolha de champagne saltou da garrafa quando contámos as 12 badaladas imaginárias, e brindámos ao novo ano. Seguimos pelas ruas de Roma e assistimos a concertos populares, no meio da multidão de italianos e turistas fascinados. Percorremos as pedras da calçada suja e envolta em cacos de vidro e lixo, rasto impressionante da festa dessa noite.

Tentámos entrar no metro mas a estação estava fechada porque tinha sido vandalizada e quase destruída. Andámos até à paragem seguinte, por volta das duas e meia da manhã, e de metro chegámos à grande discoteca que já conhecemos tão bem, onde reencontrámos as pessoas de Erasmus. Dançámos até os pés nos doerem, e porque os meios de transporte públicos estavam extremamente condicionados, acabámos a noite numa pizzaria, a conversar e a dormitar até às 8 da manhã, hora a que o metro abriu. Porque, nesta noite do ano,quase não existem autocarros, o metro abre duas horas e meia mais tarde do que é habitual, e os taxistas exploram os turistas, adicionando tarifas ridículas e exageradas, porque não há qualquer controlo.



Os pés doridos e a ressaca duraram um dia, e dia 2 começou a nossa sessão intensiva de estudo para o exame de Informática do dia 10. Ficámos literalmente enclausuradas, dias a fio, na nossa pequena casa romana, lendo e relendo frases em italiano que nem em português fariam qualquer sentido para três raparigas que estudam jornalismo, e pouco se interessam pelos CPU’s, pelas RAM’s e ROM’s, pelas linguagens de programação Java, PROLOG, PASCAL, pelas chaves simétricas e assimétricas e a sua relevância na criptografia, pelas radiofrequências a que actuam as redes WiFi e WiMax, pela conversão de números binários para hexadecimais ou decimais, pelos formatos de imagens raster ou vectorial, pela transmissão de dados por pacotes e a ATM, pela Internet dos Objectos e a sua extrema importância no nosso futuro, pelas luzes e sombras da nova economia e muitos, muitos mais conceitos que tornaram estes últimos dias uma experiência assustadora. Dei-me inclusive ao trabalho de analisar todo este processo e dividi-lo em fases!

Fase 1 – A boa vontade. Quando acordamos, de manhã, e, depois de vencido, a muito, muito, muito custo o sono inicial e a preguiça, nos sentamos em frente aos apontamentos e pensamos: “ora vamos lá começar, que isto até nem deve ser assim tão difícil”.

Fase 2 – As dúvidas. Quando nos deparamos com palavras que não conseguimos compreender, e recorremos a dicionários, ou encontramos conceitos complexos e procuramos na Internet explicações ainda mais complexas e impossíveis de entender.

Fase 3 – O cansaço. Os minutos passam a correr, e nós sem compreendermos nada, perdidas num mundo de bites e Bytes impercétiveis.

Fase 4 – As discussões / O desespero. Derivam do cansaço e dificultam a convivência normal e a aprendizagem. Gritos e pseudo-insultos fazem parte de uma fase onde ainda há pessoas que se esforçam por compreender a matéria, e outras já só querem avançar ou desistir.

Fase 5 – A esperança. Quando os nossos vizinhos, que estudam informática, conseguem finalmente fazer-nos entender o complicado mundo das redes e dos sistemas virtuais, ou quando chegamos a conclusões satisfatórias através de horas de pesquisa na Internet.

Estas fases repetiram-se, nem sempre por esta ordem, mas cada uma delas esteve presente em cada um destes dias deprimentes. O resultado? Soubemos hoje. Passámos todas, e por isso não temos de nos preocupar mais com informática.

Segunda-feira à noite saímos finalmente de casa, para comemorar. As Segundas-feiras são noites de “Locanda”, onde as festas “Any Given Monday” surpreendem sempre, e são estúpidas, e têm temas ridículos, mas nós gostamos na mesma. Acho que nunca saltei tanto, dancei tanto, transpirei tanto e me ri tanto, porque as noites assim têm um sabor especial depois de dias de enclausaramento mental.

Arrivederci!