sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Capodanno

Ciao!

Último dia do ano 2010. Deixei hoje de manhã a cidade invicta, e agora estou aqui, no nosso quarto/cozinha/sala de jantar, na cidade eterna. Sensação de regresso a casa, sem menosprezar a casa portuense e tudo o que de bom, de maravilhoso me ampara em Portugal.

10 dias no país que me viu nascer, sintetizados em muita conversa, e abraços apertados e comida da mamã. Revi quem me quer bem, pus-me a par das novidades, criei novidades novas e improvisadas. Saudades, e planos, muitos planos, adiados para meios de Fevereiro, porque agora é tempo de Roma, mais mês e meio de Roma.

Infelizmente, tempo também de exames. Não falemos disso, porque hoje é o último dia do ano. Esqueçamos por momentos os dias de estudo intensivo que me aguardam a partir de amanhã, e foquemo-nos na noite de hoje.

Passagem de ano, frente ao Coliseu, no meio da multidão de romanos e turistas habituais. Imponente, sempre, durante o dia, mas mais ainda nesta noite tão aguardada. Álcool a arder na garganta, por causa do frio (cidade gelada, no Invero!), e quem sabe acabar a noite a dançar na discoteca maior e mais bonita, tão nossa conhecida, hoje com cinco pistas abertas para nós.

Mas sobre a noite de hoje, não vou especular. Vou escrever sobre ela, mais tarde.

Portugueses, meus portugueses. Espero que o vosso Natal tenha sido pelo menos tão bom como o meu. Divirtam-se esta noite.

Feliz 2011.

Arrivederci!

sábado, 18 de dezembro de 2010

Arrivederci*

Ciao!

Amanhã voo para Portugal. Voo mesmo, não com as minhas asas mas com a ajuda das do avião. É por isso que hoje as minhas estão murchas.

É uma sensação estranha. A vontade intensa de regressar à cidade invicta, à minha família e aos amigos de sempre e para sempre, a quem me quer bem. Mas, ao mesmo tempo, este medo de que tudo esteja diferente, ou então que tudo esteja igual, assustadoramente igual, e quem tenha mudado seja eu.

Eu já disse muitas vezes que para mim Roma não está à escala do Real. E a Raquel diz-nos muitas vezes que sim, que é real, que eu vivi mesmo todas estas experiências e todos os momentos passados na cidade eterna, desde o dia 3 de Setembro. Mas, lá no fundo, se calhar continuamos todas a acreditar que adormecemos, numa tarde de calor, na Praça de S.Pietro, no Vaticano, e a partir daí o tempo parou e tudo o que se lhe seguiu foi, e está a ser, um sonho.

Hoje não vou falar das festas a que fui, nem das pessoas que conheci ou dos lugares que visitei. Vou deixar-me estar quietinha em casa mais uma hora, porque amanhã a casa será diferente. A culpa foi da Vanessa, que se enganou e pôs o despertador uma hora mais cedo do que era suposto, e, portanto, eu acordei às 8 e dormi menos do que tinha planeado.

É engraçado pensar que, a partir de Terça-feira, vou acordar sempre uma hora mais tarde, durante 10 dias.

Arrivederci!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

L'albero di Natale

Ciao!

À minha volta toda a gente corre de um lado para o outro, a maior estação de Roma apinhada de gente que se quer proteger do frio junto ao calor do consumismo. Estou em frente à árvore de Natal de Termini.

No lugar de bolas de cristal, folhas de papel. Declarações de amor e cartas ao Babbo Natale. Desejos e ambições, projectos mais ou menos essencias para 2011 (que o Roma ganhe o campeonato este ano, por favor) (por favor, Babbo Natale, faz-me passar nos exames de Janeiro!).

E, no meio das vozes indistintas, uma voz conhecida. Estava tão concentrada na árvore que nem reparei que chamava por mim um amigo meu, italiano, siciliano. Reparou com certeza na minha cara, como que hipnotizada pela árvore. Não percebo o porquê desta sensibilidade, nem o que representa. Talvez seja por estar longe da minha família de sangue e ter saudades.

Ele rasga um papel em dois e eu escrevo o meu desejo, em italiano. Quero voltar a Roma um dia.

Já está o desejo pendurado na árvore de Natal de Termini.





Já tinham saudades minhas e só passou uma semana desde que vos escrevi. Anda a apoderar-se de mim o espírito natalício, e depois acontece isto: faço uma pausa no meu estudo de italiano e ponho-me a escrever em português.

A semana foi passada a preparar trabalhos para a faculdade. Pois é, tem de ser. Quarta-feira ainda fui ao cinema do ESN, e vi um dos melhores filmes italianos de que me lembro (e olhem que, com esta rotina de ir ao cinema todas as quartas-feiras ver filmes italianos antigos, até já conheço bastantes). “Indagine Su Un Cittadino Al Di Sopra Di Ogni Sospetto” é um filme de 1970 sobre o poder da polícia e a sua influência política, que aconselho vivamente.

Quinta-feira acordámos cedo e fomos à faculdade entregar um resumo das nossas propostas de trabalho para a cadeira de Semiótica. Felizmente a professora gostou do que cada uma de nós escreveu (sim, meus amigos, tudo em italiano), e deu-nos luz verde para avançar com o projecto para Janeiro. O meu tem a ver com o filme “Schindler’s List”, e a importância da imagem segundo a óptica de um determinado filósofo, mas eu depois explico-vos melhor.

Quinta-feira tem-se tornado cada vez mais noite de “Kube”, que é uma grande discoteca onde há concertos interessantes e três andares onde se ouvem músicas muito diferentes. O “Kube” não é só frequentado por estudantes estrangeiros, mas sobretudo por italianos, e por isso acabámos por conhecer alguns.

Sexta-feira foi o dia da nossa ceia de Natal, e da troca de prendas entre os portugueses. A Joana preparou bacalhau com natas para 18 pessoas, foi uma proeza incrível. No fim do jantar, trocámos as prendas que tínhamos comprado. Pequenas lembranças até cinco euros, embrulhadas em sacos do lixo pretos sem remetente, para cada um adivinhar quem lhe tinha dado o presente. A mim foi o João que me deu uma espécie de insenso muito agradável, e eu dei à Sara um gel de banho com cheiro a frutas, muito forte e muito bom.

Às 3 da manhã, a Vanessa, o João e o Camelo partiram para a Polónia, onde vão ficar até Quinta, na casa de uma amiga que também está a fazer Erasmus. Eles foram-se embora e eu estou cheia de saudades! Mais tarde chegaram duas amigas da Raquel, que a vieram visitar.

Eu passei o Sábado a passear e à procura de umas meias de vidro que ficassem bem com o vestido que a Vanessa me emprestou para a gala da noite. Sim, o ESN organizou uma gala de fim-de-ano antecipada, no dia 19, porque a maioria dos estudantes europeus vai regressar a casa no Natal. Dancei e diverti-me bastante, como é costume, mas desta vez com dores nos pés, devido aos sapatos de salto alto, na tentativa de ir vestida a rigor. Aproveito aqui para referir que a Ana me ajudou a voltar para casa ao emprestar-me as botas dela (Ana, estás aqui!), apesar de termos andado um bocado a pé com a Inês e o Alejandro (aquele nosso vizinho espanhol), porque não encontrámos o autocarro noturno. E porquê? Porque os nossos queridos vizinhos portugueses estão na Polónia, e eles sempre foram o nosso GPS. Por isso sem eles perdemo-nos mais vezes.

Foi no Domingo que escrevi o texto que inicia a minha publicação de hoje. Fui com um amigo siciliano comprar chocolates, e perdi-me a olhar para a árvore de Natal de Termini. À noite fomos com as amigas da Raquel jantar a Trastevere, onde provei uma massa com frutos do mar, e para acabar bem o dia nada melhor do que um Tiramisu de morango, no “Pompi, il Regno di Tiramisu”.

Ontem passei o dia a estudar italiano e numa aula aborrecida de Comunicação Pública.Foi por isso que não cozinhei para o Eurodinner, e a Cláudia, a Ana e a Inês fizeram as natas do céu. O Eurodinner é um jantar onde cada grupo de pessoas traz uma comida típica do seu país. E devo dizer que comi até não poder mais! Depois fomos ao Locanda (aquele bar/discoteca muito alternativo de que vos falei a semana passada), mas não voltamos muito tarde. Porquê?

Porque amanhã tenho exame de italiano. É verdade. E hoje o dia está a ser passado em casa a estudar. Com esta pequena pausa para escrever, note-se.
Agora com licensa. A gramática chama por mim.

Arrivederci!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Oggi mi sento di scrivere

Ciao!

A Ana chegou a Portugal no dia 1 de Dezembro, e só voltou a Roma no dia 6. Foi fazer uma surpresa ao pai, que fez anos. Encontrou viagens baratas pela RyanAir, Roma-Madrid e Madrid-Porto, e voltou à pátria durante uns dias. E durante uns dias a cama foi só minha, pude desarrumar o quarto à-vontade e atirar a roupa para o lado dela, e ninguém me criticou! E, mesmo assim, tive tantas saudades. Tive tantas, tantas saudades do meu floco favorito...

Por cá, o peso dos trabalhos da faculdade e dos exames que se aproximam começa a fazer-se sentir, e é assustador. Esta Quinta-feira, por exemplo, vou entregar um “abstract” à minha professora de “Semiotica”, um resumo da minha proposta de trabalho para Janeiro.

Sexta-feira fui às compras com a Vanessa. Ela ainda comprou bastantes prendas, eu limitei-me a comprar a prenda de Natal para o meu querido irmão, mas fiquei toda contente. Tenho a certeza que ele vai adorar!

À noite fomos a uma discoteca já bem conhecida, que eu gosto muito, porque tem várias pistas de dança com diferentes tipos de música. Desta vez havia duas pistas abertas, uma onde supostamente se dançava“reggaeton”e outra mais “rock indie”, pelo menos foi o que lhe chamaram. Nomes à parte, dancei músicas que já não ouvia há muito tempo, e o único problema foi mesmo a dor de ouvidos e a sensação de surdez porque, não sei bem porquê, nessa noite a música estava demasiado alta, insopurtável para qualquer ser humano normal. Bem, tive mais algumas pseudo-chatisses para além do volume ensurdecedor da discoteca, mas essas foram pseudo-chatisses de Erasmus, daquelas que não se contam.

(Em Erasmus, tudo têm uma importância um pouco relativa. As chatisses não podem durar muito, porque o Erasmus vai acabar depressa e não há tempo para isso. Aliás, estás a tentar recuperar de uma chatisse que pensas que te afectou profundamente,e, na verdade, logo te aparece outra oportunidade de pseudo-chatisse futura. Gosto.)

Sábado, ainda meia ensonada, visitei uma pequena parte das “Catacumbas de Priscilla”. Mais uma visita organizada pelo ESN, que eu gostei particularmente. Os 14 kilómetros de túneis subterrâneos onde se conservavam os mortos podem parecer mórbidos para muita gente. Para mim, parece-me um óptimo lugar para pensar na vida, passear sem apanhar chuva e jogar às “escondidinhas” com amigos.

À noite, depois do treino de volley (que correu particularmente bem, porque éramos poucos a treinar), fomos a S.Lorenzo. A zona dos estudantes italianos, que é como quem diz, a verdadeira vida académica romana, à parte erasmus. Fomos com um amigo italiano, o Aldo, que nos levou a uma livraria-bar, e eu bebi consolada um chocolate quente com canela que me soube mesmo, mesmo bem. Até porque a noite estava gélida (ainda que não tão gélida como no Porto, pelo que ouço dizer).

Domingo foi dia de me rebolar em casa, de pijama, estudar italiano e adiantar trabalhos para a faculdade. À noite a Inês cozinhou frango com arroz branco, comida pouco italiana mas bem saborosa, que partilhámos num grande jantar com os vizinhos portugueses, o sueco e o espanhol.

Segunda-feira fui às aulas, como pessoa aplicada que sou, e, não me lembro bem, mas acho que ainda estudei qualquer coisa. À noite fizemos um sorteio entre os portugueses, o típico amigo secreto de Natal. Escrevemos os nomes de todos em pequenos papeis, pusémos dentro de um copo de plástico da cantina, e cada um de nós retirou um papel, aleatoriamente. E agora temos de oferecer uma prenda, com o valor máximo de 5 euros, à pessoa que nos calhou.

O resto da noite foi totalmente... alternativo. Fomos, com os novos vizinhos, o sueco e o espanhol, a uma discoteca/bar que não conhecíamos, em S.Lorenzo. Se eu escrevesse sobre toda a noite, iria demorar horas a descrever tudo, por isso vou atirar palavras ao ar: um palco onde cantavam e dançavam homens e mulheres semi-nus, paredes forradas de pinturas satânicas, projecções da virgem Maria em grande plano, chicotes, venda de brincos e pulseiras para ajudar a população do Kenia, homens a fazer malabarismo, música de todas as épocas e de todos os estilos, anúncios dos anos 80 transmitidos num grande ecrâ. Misturem tudo com alcóol e têm um grande coktail alternativo. Apreciem.

Parecendo que não, gostei da diferença. Se houvesse alguma possibilidade de Roma cair na rotina, a noite de ontem quebrou-a totalmente.

Arrivederci!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Tre Mesi

Ciao!

Reparo que uma gota de água caiu no teclado do computador. Escorreu do meu cabelo molhado, cheira a shampoo. É Sexta-feira, Venerdí, e mais uma festa de Erasmus, dentro de poucas horas.

Hoje é dia 3 de Dezembro. O que equivale a dizer que estou em Roma há precisamente 3 meses. Isto significa que há 90 dias que não estou em Portugal, que a cada dia que passa espero na "fermata" o "autobus" para a faculdade, porque o "autocarro" e a "paragem" ficaram lá na pontinha oeste da Europa.

Há mais de duas mil horas que percorro Itália e vivo tão livre, tão independente no meu pequeno apartamento romano.

Um dia hei de entender o tempo.

Arrivederci!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Vita

Ciao!

Há coisas que simplesmente não posso descrever. E, de repente, parece que o propósito deste blog desapareceu. Partilhar com toda a gente o que vivo em Roma? Foi a coisa mais estúpida que já tentei fazer. Há coisas que não posso contar, há coisas que não sei explicar, há coisas que ninguém compreende. É preciso vivê-las.

Posso contar-vos que os dias parecem passar cada vez mais rápido. Que andamos de festa em festa, que cada vez tentamos passear mais e aproveitar mais esta experiência única, porque o tempo parece ter pressa. Ontem fui ao Castelo de St. Ângleo à noite, numa visita organizada pelo ESN, e, como sempre, adorei. Hoje fui ao cinema ver mais um filme italiano, de 2005: “Quo Vadis, Baby?”, e gostei muito.

Estou assustada com a quantidade de coisas que tenho para estudar. Trabalhos para fazer, livros para ler, tudo em italiano, que ainda não domino como queria. É preciso ter coragem…

Aqui em Roma está muito frio, o que acaba por aguçar o meu espírito natalício. Vamos fazer um almoço de Natal, e trocar prendas entre nós. E por falar em prendas, Sexta-feira devo ir comprar prendas para a família. Consumismo de Dezembro, já se sabe.

Tenho dois novos vizinhos: um sueco e um espanhol. São muito simpáticos, já vieram cá a casa apresentar-se. Parece que nos vamos dar bastante bem.

Bem, mas há coisas que simplesmente não consigo descrever. E, enquanto escrevo isto, penso em tudo, e faço uma lista mental do que devia contar, e nesta lista não cabe tudo, não cabe nada. Se em Erasmus choramos, desesperamos, atrofiamos, então não é menos verdade que vivemos tudo tão intensamente, porque sabemos que vai acabar mais rápido do que pensámos.

Obrigada:
•Aos meus pais, que sustentam à meses estes meus vícios em Roma;
•A toda a gente que me vem visitar, gosto muito de vos mostrar a minha nova cidade;
•À minha família daqui, vocês, Comunidade;
•A todas as pessoas que me fizeram crescer, aprender, rir, brincar e aproveitar aqui em Roma.

Arrivederci!