sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Sorpresa!

Ciao!

Desde o dia 20 de Outubro já se passaram tantas coisas que, se eu fosse a descrevê-las todas, ocuparia páginas sem conta e fazer-vos-ia perder horas e horas em frente ao computador. Por outro lado, nem me lembro bem de todos os pormenores desta última semana. Mas há coisas que, definitivamente, não vou esquecer.

Quarta-feira, depois de um dia aborrecido de muitas horas de aulas, fomos sair, a mais uma festa de Erasmus. Eu tinha passado algum tempo na Internet, a falar com amigos e com a minha família e, por isso, fiquei surpreendida quando, por volta das 11 da noite, estava eu prestes a sair de casa, recebo uma mensagem do meu irmão, a dizer que me ia ligar. Fiquei um pouco preocupada, mas quando atendi ouvi-o a dizer:

“Olha, amanhã posso ir aí?”

Sim, o meu irmão perguntou-me, Quarta à noite, se podia vir do Porto e aparecer em Roma no dia seguinte. E veio mesmo. Depois de uma noite muito divertida, onde dancei até não poder mais e contactei com estudantes Erasmus de várias nacionalidades, quase não tive oportunidade de repor o sono perdido.

O Pedro chegou por volta das duas da tarde, e eu faltei à única aula que tinha nesse dia para o ir buscar. Pela terceira vez desde que estou em Roma executei quase na perfeição o meu papel de guia turística. Visitámos a Piazza Navona, a Piazza di Spagna, a Fontana di Trevi, o Panteão e a Piazza del Popolo, tudo na mesma tarde. Percorremos as ruas de Roma em passo acelerado, e chegámos a casa estafados mas felizes por tudo o que tínhamos (re)conhecido. Como tínhamos andado muito, e o meu irmão tinha acordado muito cedo, optámos por ficar a ver um filme com os vizinhos, à noite. “A rapariga Siciliana”, filme original italiano, deve ser muito interessante, mas de tal forma estava confortável entre as almofadas de cama do João e do Pedro (a cama-base onde assistimos às sessões de cinema), adormeci quase imediatamente. Por isso, claramente, não sou a melhor pessoa para opinar sobre o que não vi.

Na Sexta-feira acordámos mais tarde do que o previsto. A Raquel, por seu lado, acordou bem cedo e foi para o aeroporto, porque foi passar o fim-de-semana a Portugal, para o casamento do primo. O meu irmão ficou com o cartão da cantina dela, e pôde comer à vontade a deliciosa comida italiana universitária, por preços bem acessíveis. E ainda beneficiou do passe de estudante, podendo usufruir de todos os transportes públicos romanos sem pagar.

Entretanto fomos ao Vaticano, passeámos pela praça e visitámos Basilica de São Pedro. À noite fomos fazer palhaçadas para a Fontana di Trevi, um local bem mais agradável de noite do que de dia, a julgar pelo número insuportável de turistas até à uma da manhã. Bebemos, jogámos jogos engraçados, enfim, divertimo-nos bastante, e eu pude matar saudades das parvoíces do meu irmãozinho.

Sábado chegou mais uma visita ao condomínio da Comunidade dos Portugueses em Roma. O Jota, amigo da Ana, também aproveitou as promoções da TAP, e apareceu a meio da tarde cheio de boa disposição e sotaque marcado do Marco de Canaveses.

Visitámos o Coliseu que, curiosamente, permitia e entrada gratuita, devido ao facto de terem sido abertas a público duas novas atracções: os subterrâneos e o terceiro andar. O Coliseu, por mais vezes que lá vá, continua sempre imponente! O seu encanto só é afectado pelas ideias pré-definidas de grandiosidade que, ingenuamente, esquecem as marcas de degradação. Não se esqueçam que aquilo foi construído entre os anos 70 e 90 D.C., não é propriamente recente…

Nessa noite continuámos a jogar jogos em grupo e a beber, e a dançar e a cantar e a ouvir música, tudo feito ao melhor estilo “home party”, que as coisas caseiras bem feitas, às vezes, saem bem melhor do que qualquer discoteca. Foi uma noite um bocadinho inesquecível por diversos (estúpidos) motivos, e muita palhaçada, como é costume.

Domingo, enquanto a Ana e o Jota inundavam a casa-de-banho e, consequentemente, toda a nossa pequena casa, e se entretinham a limpar o chão com a esfregona dos vizinhos, eu e o Pedro visitámos o Forum Romano. Foi divertido, porque recriamos algumas cenas daquele tempo (o sonho do Pedro, no fundo, era ser o personagem principal do “Gladiador”), e aprendemos bastante. Note-se que tudo isto foi possível graças ao guia turístico da Vanessa, fonte essencial de informação sobre Roma. Obrigada, Vanessa!

Ao fim da tarde fomos todos à Vila Borguese, que, como já sabem, é dos maiores parques de Roma. Uma espécie de Parque da Cidade do Porto, com patinhos e lagos e muito, muito verde, mas muito maior que o da Cidade Invicta. E à noite realizámos outra sessão de cinema, desta vez com o premiado filme “Os condenados de Shawshank”, que eu já tinha visto mas não me importei de rever.

Segunda-feira a minha rotina regressou mais ou menos à normalidade. Digo isto porque, na verdade, em Roma ainda não estabeleci uma verdadeira rotina. Há sempre coisas novas para ver, diferentes pessoas para conhecer e festas quase todos os dias. A sensação de rotina começa agora, finalmente, a ser construída, por causa das aulas diárias que frequentamos. Depois de levar o meu irmão à estação de comboios, fui ter uma aula de Comunicação Pública, seguida do curso de italiano ao fim da tarde. Entretanto a Raquel regressou de Portugal, e a noite decorreu sem grandes sobressaltos.

Terça-feira, mais aulas durante o dia e noite de Cucagna. O bar do costume das Terças-feiras, onde os estudantes de Erasmus se juntam para conviver, se conhece novas pessoas e se bebe qualquer coisa a preços um bocadinho mais acessíveis do que em qualquer outro bar.

Mais uma vez, eu juro que nem voltei muito tarde para casa, mas acordar todas as Quartas-feiras às 7 em ponto para ir ao curso de Italiano acaba sempre por ser uma verdadeira prova à minha responsabilidade. É que Quarta-feira tenho a primeira aula de 3 horas às 8 da manhã, a segunda das duas da tarde às 5, e a terceira das 5 às 8. É o dia mais cansativo de sempre, onde já não percebo metade do que os professores dizem e os olhos me pesam de verdade. À noite íamos ao cinema do ESN, ver o “Dolce Vita”. Já tínhamos reservado os bilhetes pela Internet, mas a sala de cinema encheu de tal maneira, que os organizadores, após vários pedidos de desculpa, adiaram a segunda sessão para Domingo, às 5 da tarde! Fiquei mesmo triste, porque estava verdadeiramente curiosa para ver o lendário filme, sobre o qual toda a gente fala e que eleva a Fontana di Trevi ao estatuto que tem hoje!

Mas não pensem que o Erasmus em Roma se resume a saídas à noite e passeios. Era bom, era! Pois ontem, alunas aplicadas que somos, fomos até à biblioteca da faculdade, à procura de livros para complementar o nosso (intensíssimo!) estudo! Imprimimos e fotocopiámos apontamentos das várias matérias. À noite fomos a mais uma festa, numa discoteca simpática bem longe de nossa casa. E esta noite teve muito que se lhe diga!

Por um lado conheci várias pessoas novas, entre as quais uns brasileiros sempre alegres e simpáticos (sim, já sei que falar com brasileiros não me ajuda a treinar o italiano!), e dancei bastante. Estava tudo a correr bem, até à altura em que os seguranças nos proibiram de pousar os casacos nos sofás ou no chão da discoteca. Supostamente, deveríamos pagar dois euros para guardar os casacos nos bengaleiros, ou então andaríamos com eles na mão. Porque é que lhes metia tanta confusão que dançássemos à volta dos casacos pousados no chão? Ainda agora não sei, provavelmente para ganharem mais dinheiro com os bengaleiros. Mas a verdade é que, a certa altura, aquilo tornou-se ridículo. Os seguranças a correr por toda a discoteca, em busca de casacos em sofás ou nas escadas…. Enfim.

Eu deixei o meu casaco meio escondido, num sofá, entre os casacos de umas espanholas. E correu-me mal. Os seguranças, enquanto eu dançava descontraída, pegaram em todos os casacos que encontraram e guardaram nos bengaleiros. E, quando íamos embora, eu fui pedir o casaco. E, com toda a calma, disseram-me para esperar que a discoteca fechasse! Reclamei, como é óbvio. Fui falar com um superior, e apontei para o meu casaco, estendido entre tantos outros, no bengaleiro. Ele perguntou-me se tinha alguma coisa nos bolsos do casaco. Eu disse que não. E ele perguntou-me qual era a marca do casaco. E eu disse que não sabia, que o casaco não tem marca (e não tem mesmo). E ele chamou-me mentirosa.

E pronto, a partir daí foi um escândalo. Eu respondi-lhe mal, ele mandou-me passear. Eu dei-lhe o meu bilhete de identidade e jurei que estava a dizer a verdade, que o casaco era mesmo meu. Ele mandou-me passear outra vez. Até que a Joana teve uma brilhante ideia! Fui à procura do fotógrafo (há sempre um fotografo nas festas do ESN). Ele tinha-me tirado uma fotografia no início da festa, quando eu ainda estava com o casaco na mão. E foi essa fotografia a prova (mais que suficiente!) de que o casaco era realmente meu. Ainda paguei dois euros por me guardarem o casaco, e fui-me embora chateada, depois de agradecer ao fotógrafo. Felizmente, este incidente não foi capaz de me estragar a noite. Até porque no autocarro para casa conheci um rapaz português que, vejam lá, é um grande amigo de uma amiga minha, no Porto! O mundo é mesmo pequeno!

E pronto. Estes romanos são loucos.

Arrivederci!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Studentessa!

Ciao!

Cá estou eu outra vez, a escrever-vos do quentinho de minha casa, contrastando com o frio intenso que faz lá fora. Sim, chegou o Outono, já não posso andar de t-shirt, os casacos finos vão sendo substituidos por casacos cada vez mais grossos, as sandálias por botas, enfim… Triste tempo este! Quase sinto saudades de transpirar por todos os poros durante o Setembro de Roma.

A última vez que vos escrevi era Quarta-feira, e desde esse dia já se muita coisa se passou por cá! Quinta chegaram dois amigos meus, a Inês e o Diogo que, aproveitando uma promoção da TAP, me vieram visitar. Nesse dia andei a passear com eles pelos principais pontos turísticos, e divertimo-nos bastante. Eu própria conheci melhor alguns lugares que ainda não tinha visitado.

À noite eles optaram por descansar, por terem acordado muito cedo, mas eu e os vizinhos fomos a uma festa do ESN, numa das discotecas mais bonitas que eu já vi. Muito bem decorada, com sofás acolhedores e paredes pintadas em diversos padrões, geralmente com riscas brancas e pretas. Aliás, a ideia da festa era vestirmo-nos todos de preto ou branco (ou preto e branco), e nós, como sempre, trajamos a rigor!

Na Sexta-feira chegaram os pais da Ana, que passou os dias seguintes com eles. Eu continuei a fazer de guia turística, acompanhando o Diogo e a Inês pelas ruas de Roma. Ajudei-os a adquirir um bilhete que lhes deu acesso ao Coliseu, ao Fórum Romano e ao Palatino. Eu não fui com eles, porque quem arranjou os bilhetes foram os nossos vizinhos, supostamente estudantes de arquitectura (pelo menos é o que dizem, apresentando um cartão perfeitamente falsificado). Aqui em Roma, os estudantes de arquitectura têm acesso livre à maioria dos monumentos. Então, os vizinhos compraram os bilhetes e deram-nos à Inês e ao Diogo, que puderam visitar o que quiseram de borla. Simples, rápido e eficaz.

À noite fomos a “Trastavere”, a zona de bares e restaurantes do outro lado do rio. Comemos muito bem, e muito barato. O menu variou entre pizzas, massa, lasanhas e bifes, portanto, como imaginam, ficamos todos muito satisfeitos! É uma zona muito bonita, agradável para passear. Ainda assistimos a um pequeno concerto de rua, divertimo-nos bastante.

Sábado foi um dia pouco produtivo, porque o tempo não ajudou a grandes passeios. Estávamos cansados, preguiçosos, e, como tal, a caminha e as séries de televisão foram a nossa opção. À noite os vizinhos ofereceram-nos um jantar caseiro (finalmente! Já jantaram connosco tantas vezes!), massa à bolonhesa, que todos adorámos.

Domingo o despertador tocou às 4:45h da manhã, porque decidimos ir a Siena, apanhar o comboio das 6:06h. Queríamos aproveitar o último dia do nosso bilhete de intra-rail, que durou um mês, e nos permite andar de comboio sem pagar. Siena é uma cidade muito bonita! Pequena, mas com paisagens encantadoras, e pessoas simpáticas a passear (ainda que muitas ruas estivessem desertas, por ser Domingo). Comprámos um bilhete que nos permitia entrar em 5 monumentos: o Duomo, a Cripta, o Oratório, o Museu da Ópera e o Batistério. Apesar de termos esperado meia hora para a podermos apreciar (e eu aproveitei para dormir, enquanto esperava), a vista panorâmica da torre do Museu da Ópera surpreendeu-nos pela positiva. Fotografámos as lindas paisagens de Siena, que incluíam o arco-íris, entre as nuvens de chuva prestes a cair e o Sol que insistia em brilhar. Ao fim da tarde, a chuva caiu em força. Estávamos nós a sair do Oratório quando nos apercebemos que eram quase horas de o comboio de regresso partir. Corremos à chuva pelas ruas da cidade, até porque o próximo autocarro até à estação demorava mais de meia hora a chegar. Corremos, corremos e chegámos mesmo a tempo! Deixámo-nos cair sobre os acentos do comboio, cansadas, e viemos a conversar até Roma, felizes pelo dia que passámos.

Segunda-feira foi o meu primeiro dia de aulas na faculdade! Finalmente! Estava em Roma há mês e meio, e tudo o que fazia era passear e, mais recentemente, ir às aulas de italiano, duas vezes por semana. Boa vida, não é verdade? A culpa era, como já sabem, da greve dos professores.

De manhã fui levar a Inês e o Diogo à estação de comboio, e eles seguiram para o aeroporto. Depois do almoço, como tínhamos duas aulas ao mesmo tempo (sim, a organização romana, pelos menos a nível universitário, deixa muito a desejar), decidimos dividir-nos. Eu e a Inês fomos a uma aula, a Ana e a Raquel a outra, para falarmos com os professores. Eu fui à aula de “Comunicação Pública e Institucional”, depois de termos passado bastante tempo à procura da sala. Não era uma sala muito grande, e, por isso, tivemos que ficar sentadas no chão, porque as cadeiras estavam todas ocupadas. Percebi pouco do que a professora disse, para ser sincera. Mas, no fim da aula, ela foi muito simpática. Prometeu ajudar-nos no que fosse preciso, compreendeu que tínhamos de faltar algumas vezes, devido à desorganização dos horários e, inclusive, admitiu a hipótese de mudar a data do nosso exame.

Ao fim da tarde fui a mais uma aula de italiano. Estas aulas são sempre divertidas, e, como a professora fala devagar, toda a gente percebe muito bem a matéria, e vamos progredindo gradualmente. À noite a Ana e a Raquel contaram-me que o professor de “Informática e Tecnologia da Comunicação Digital” não tinha sido tão acessível como a professora que eu tinha conhecido, informando-as de que quem não fosse às aulas (mesmo por não ter tempo), teria que fazer um exame mais difícil.

Terçaa-feira fui eu e a Inês à aula de Informática, e continuamos sem perceber grande coisa. Mas, quando chegámos a casa, estudámos afincadamente, com a ajuda dos nossos vizinhos estudantes de informática! Sistemas binários e representação hexadecimal, preparem-se, porque nós vamos tornar-nos umas autênticas nerds de informática. A sério, não estou a brincar!

À noite fui dar um passeio com o João e a Cláudia, e estivemos com alguns brasileiros muito divertidos, que tocaram na guitarra músicas que toda a gente conhece, em plena Piazza Navona. Apesar de não ter voltado a casa exageradamente tarde, custou-me imenso acordar hoje de manhã. O despertador tocou às 7 e um quarto e eu, meia a dormir, lá tomei banho e fui para a aula de italiano, às 8.

Todo o meu dia foi passado em aulas. Estou cansada e, ainda por cima, vou agora a uma festa. Hei de ter mais coisas para contar, mas hoje já escrevi muito!

Não percam o próximo episódio… Que eu continuo cá, a partir da Cidade Eterna a contar-vos tudo o que se passa na curiosa vida de uma estudante de Erasmus.

Arrivederci!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

E alla fine arriva mama!

Ciao!

Para começar em grande, novidades fresquinhas: já tive duas aulas de italiano, e já vi dois filmes italianos! Daqui a uns dias domino a língua. De facto, é bom constatar que, mesmo vendo filmes sem legendas em português ou inglês, compreendo grande parte do que ouço (e leio, porque as sessões de cinema organizadas pela comissão de Erasmus incluem sempre legendas, em italiano).

A minha turma agrupa gente simpática e divertida, acolhedora desde a primeira aula. Para além de mim e mais uma portuguesa, a turma é constituída por franceses, alemães, uma lituana e uma chinesa (sim, uma chinesa, que não consegue pronunciar correctamente os “R”s, mas que se desenrasca muito bem, para quem está acostumado a um alfabeto diferente!). Mas, sobretudo, a minha turma inclui muitos, muitos espanhóis! É incrível como há tantos espanhóis em Erasmus, eles estão por todo o lado!

Alguns esforçam-se por falar italiano correctamente, mas muitos limitam-se a falar espanhol e a mudar um pouco o sotaque, convencidos que, no fundo, entre espanhol e italiano há pouca coisa que muda. Mas já foram avisados para não trocar os “V”s pelos “B”s, e para não acrescentar “E”s nas palavras que começam por “S”!

Logo na primeira aula fui apelidada de “mascote” da turma, porque sou, de longe, a mais nova. Aliás, cá em minha casa devemos ser as mais novas alunas em Erasmus, porque poucos alunos fazem Erasmus logo no segundo ano. É engraçado, sinto-me jovem, cheia de vida, e sinto-me feliz por o ser. À minha volta toda a gente é mais velha, mas eu não os invejo, que eu tenho muito, muito tempo para crescer!

Na segunda aula trabalhei com um espanhol chamado “Juan”, e é mesmo engraçado descobrir as diferenças entre as duas línguas. Eu nunca gostei muito de espanhóis, mas, neste caso, somos todos estudantes e estamos todos a tentar aprender italiano, e, por isso, a base do desenrascanço vale para todos. Ninguém se ri quando alguém erra ou hesita, estamos todos no mesmo barco. E, acreditem, há sempre alguém que acrescenta uma palavra espanhola, portuguesa, francesa ou inglesa a uma frase italiana. É uma mistura gigante, é uma grande, grande confusão cultural.

Porque não são só as diferenças da língua que sobressaem, mas também as de hábitos e costumes. Por exemplo, a minha colega chinesa, Yang, admitiu considerar muito estranho os italianos atirarem as beatas dos cigarros para a rua! Ao que parece, na China esse acto dá direito a multa. E, enquanto que os espanhóis, que jantam por volta das 10, acham que os italianos jantam muito cedo (8, 8 e meia), a minha colega lituana admite que na Lituânia nem se janta, come-se qualquer coisa ao fim da tarde, mas nunca depois das 6 e meia.

De resto, não tenho muito mais para contar. Há uns dias fomos ao Coliseu, ao Palatino e ao Fórum Romano, visita organizada pelo ESN. Mas tive pena, porque no dia em que entramos dentro do Coliseu, choveu. Aliás, tem chovido bastante em Roma. Hoje, por exemplo, não choveu todo o dia, esteve bastante calor, mas agora à noite chove torrencialmente.

Os próximos dias prometem ser engraçados, até porque vou receber visitas cá em casa. E, Segunda-feira, começam as minhas aulas na faculdade. Finalmente!
Sinceramente, já me estava a assustar esta greve dos professores. A perspectiva de não passar a nenhuma cadeira no primeiro semestre não era propriamente animadora! Mas, enfim, já está tudo resolvido. Agora, é trabalhar a sério.

Ah, é verdade! Não podia acabar sem contar que descobrimos que a famosa série “How I met your Mother” (que eu tenho acompanhado fielmente), é conhecida aqui por “E alla fine arriva mama!”. Exacto. Aqui está a razão do titulo de hoje. Ainda pior que em Portugal, “Foi assim que aconteceu”. Mas porque é que traduzem os títulos das séries? Porquê????

Arrivederci!

sábado, 9 de outubro de 2010

Collegiale

Ciao!

Mais uma vez, novidades para Porto e Gaia directamente, e em primeira mão, sobre a cidade eterna. Mais precisamente sobre a minha (interessantíssima) vida em Roma.

Em primeiro lugar, Segunda-feira começam as minhas aulas de Italiano. Tenho um horário bastante bom, porque não me ocupa grande parte dos dias. Tenho aulas à Segunda-feira das 18h às 20h, e à Quarta-feira das 8h às 11h. Isto significa que acabo por ter as tardes todas livres, embora me custe acordar tão cedo à Quarta. Ainda por cima porque costumámos ir sair à Terça, ao Cucagna!

Sobre as aulas na faculdade, tudo na mesma. Os professores continuam em greve, e aponta-se para o finalizar das negociações dia 18 de Outubro. Mas, no pior dos casos, as aulas podem começar apenas a 1 de Novembro.

Por isso o que temos feito é, basicamente, passear. Sair à noite, passear, e ver filmes. Há uns dias fomos a um cinema italiano, (visita organizada pelo ESN), onde vimos um filme sobre Erasmus, dobrado. Consegui perceber tudo bastante bem porque o filme também tinha legendas em italiano, o que me permitiu acompanhar a história. Chama-se, em português, "O Apartamento Espanhol", mas é originalmente francês.

Mas ontem à noite fomos a uma festa particularmente interessante.

Realizou-se numa discoteca, mas tinha como tema “2010-10-08 College Party”, e a ideia era irmos vestidos como estudantes ou professores. Apesar de muita gente não ter aderido, a Comunidade dos Portugueses em Roma aderiu bastante, e acabámos por tirar algumas fotos engraçadas. O melhor disfarce ganha uma viagem a algumas cidades italianas, organizada pelo ESN.



E pronto, não me apetece escrever muito mais hoje. Vou mantendo-vos a par das novidades.

Arrivederci!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Buon compleanno!

Ciao!

Já passou bastante tempo desde a última vez que escrevi, a contar das aventuras do IntraRail. Na verdade, não tenho escrito mais frequentemente por falta de tempo, de vontade, de inspiração, e também porque o último texto foi particularmente bem sucedido; ao que parece muita gente gostou da descrição das cidades que visitámos.

Desde que voltámos a Roma, o tempo tem continuado a passar assustadoramente rápido. Há dias e episódios que já não recordo com precisão; lembro-me de coisas vagas sem data definida. Por exemplo, o facto de grande parte dos professores continuar em greve por toda a Itália. De tal forma que, após passarmos um Domingo pós – IntraRail a descansar e a arrumar a casa, acordámos na manhã de Segunda e verificamos que, afinal, não tínhamos aulas. E, hoje, passadas quase duas semanas, continuamos sem aulas e sem saber quando começarão.

Lembro-me também que, no dia 29 de Setembro, fizemos um teste de Italiano, para avaliar o nosso nível de conhecimento da língua (básico, muito básico, está-se mesmo a ver). A partir dos resultados desse teste foram organizadas turmas, para o curso de introdução ao Italiano exigido pela universidade, e que não foi afectado pela greve. Soubemos há uns dias os resultados dos testes, e ficamos todas em turmas separadas, o que é curioso e interessante, bom para nós, até, penso eu.

Na Sexta-feira, dia 1, os meus pais chegaram a Roma. Vieram cá passar cinco dias, aproveitando o fim-de-semana e o feriado do 5 de Outubro, quando se comemora a implantação da República em Portugal. Isto porque o meu pai fez anos na Sexta e, além disso, eu própria fiz anos no dia 4. Por isso, estes últimos dias foram passados a matar saudades da família e a passear por Roma, e foram marcados por várias surpresas muito agradáveis. Só tive pena de o meu irmão não ter podido vir, por ter de trabalhar.

Nesse dia fui com os meus pais ao “Museo Nazionale delle Arti del XXI Secolo” (conhecido por Maxxi), um museu de arte moderna, muito grande e engraçado, planeado pela arquitecta britânica-iraquiana Zaha Hadid, que levou 10 anos a ser construído e custou cerca de 150 milhões de euros. Logo à entrada do museu deparamo-nos com um esqueleto gigante com um enorme nariz, obra de Gino De Dominics chamada “Calamidade Cósmica”. E, dentro do museu, pudemos conhecer pinturas e esculturas muito originais, num espaço confortável e bonito.

À noite fui sair, a uma festa de Erasmus numa discoteca simpática, eu, os outros portugueses da “comunidade” e vários colegas estrangeiros. Diverti-me muito e dancei até não poder mais: é raro em Roma mas, desta vez, o preço de entrada e das bebidas era acessível.

Sábado e Domingo continuei a passear com os meus pais, pela Piazza Navona, pelo Vaticano, pela Piazza di Spagna, pelo Coliseu, Panteão, Fontana di Trevi, pela minha linda faculdade de Ciências da Comunicação, pelas ruas movimentadas de turistas onde eu e a minha mãe nos podemos deliciar com lojas e mais lojas, enfim, percorremos Roma a pé, de autocarro e de metro, abastecendo-nos de pizza e massa e muitos, muitos gelados. Até fomos a uma praia, em Ostea, que acabou por me desiludir pela sua degradação e areia escura, que parece terra. Não há nada como as praias de Portugal. Por outro lado, Trastevere, do lado de lá do rio, foi uma das zonas que mais gostei de visitar, onde dezenas de restaurantes apinhados não só de turistas mas também de italianos se amontoam pelas ruas antigas e harmoniosas.

Segunda-feira foi um dia um bocadinho especial. Pela primeira vez, desde que me lembro de existir, comemorei o meu aniversário fora de Portugal. Almocei muito bem com os meus pais e passeámos pela cidade toda a tarde. À noite, comprei imensas pizzas e um bolo, mas quando cheguei a casa tinham-me preparado uma surpresa! No nosso jardim, os vizinhos tocaram guitarra e cantaram-me os parabéns, e tinham-me preparado um autêntico “festival do chocolate”, e acreditem que não estou a exagerar! Em cima das mesas havia de tudo: mousse de chocolate, bolos de chocolate, tostas com Nuttela, batidos de chocolate, bolachas de chocolate, cereais de chocolate, chocolate, chocolate, chocolate! E agora adivinhem qual foi a minha prenda? Uma enorme caixa feita por eles, forrada com papel de embrulho às cores, e lá dentro…. Muitos, muitos, muitos chocolates! Eu acho que não consigo lembrar-me de todas as marcas de chocolate que lá havia, e não me parece que consigamos comer aqueles chocolates todos nos próximos três meses em Roma!

A festa tinha sido organizada enquanto eu passeava com os meus pais, e a minha mãe sabia, porque ligou à Inês quando estávamos a chegar a casa, para garantir o sucesso da surpresa. No fim ainda fomos a casa da Kamila, uma rapariga polaca muito divertida, que também tinha feito anos no dia anterior, e acabámos por comemorar as duas. Foi uma noite espectacular, apesar de ter saudades dos meus amigos de Portugal, com quem não passei o meu aniversário pela primeira vez. Mas nada que uma extensa troca de mensagens via telemóvel e pela Internet não resolva, tornando possível sentir-me mais próxima de quem gosto.

Ontem os meus pais foram-se embora e eu fiquei doente. Já estava constipada, mas piorei à noite, depois de um passeio pelos principais pontos de interesse do centro de Roma, organizado pelo ESN (caso não se lembrem, a sigla significa “Erasmus Student Network, organizadores de festas e eventos para alunos Erasmus). Aliás, neste momento estou a escrever-vos da minha cama, é uma da tarde e estou rodeada de pacotes de lenços e chá de limão. Foi o Pedro que, ontem à noite, me preparou o chá. É que ele também está doente, coitado.

Cá em casa é assim. Fica um doente, ficamos todos, por solidariedade.

Ou, se calhar, é por vivermos todos no mesmo sítio, passarmos horas nos quartos uns dos outros a partilhar bactérias e vírus.

Se calhar, se calhar é por isso.

Arrivederci!