quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Hoje não tenho palavras. O universo agiu por si, e eu vi o universo a agir mesmo em frente a mim. Ao meu lado.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Dopo lo studio delle teorie dei nuovi media

Ciao!

Hoje acordei a sorrir, e estava bem quentinha, enrolada no cobertor do Bjorn.

O Bjorn emprestou-nos um cobertor que é verdadeiramente quente, uma vez que, até há bem pouco tempo, tínhamos a casa cheia de visitas (e de gargalhadas e de lenços espalhados pelo chão) e mal cabíamos todos, e, por isso, não havia sacos-cama nem lençóis para toda a gente. Desde a última vez que vos escrevi já recebemos entre estas paredes que tão bem conheço 17 pessoas. Imaginam o que isso é, numa casinha como a nossa? Estes últimos dias foram uma confusão, até criámos um plano de acção para receber toda a gente e, mesmo assim, conseguirmos estudar para os exames da faculdade. O plano chamava-se: “Plano de Visitas, aka Fim do Mundo”.

Mas, como eu estava a contar, hoje acordei a sorrir. Porque já não me sentia doente. É verdade, eu e a Ana apanhámos um vírus qualquer e, por isso, ontem passámos o dia a vomitar e a gritar de dores de barriga. A Raquel há uns dias também tinha estado doente. Não percebo bem o que se passa, se é o ar de Fevereiro, se comemos comida estragada, se é o facto de termos andado a estudar muito e a sair pouco, o que aqui em Roma é contra-natura.

Um dia antes de ficarmos de cama fomos estudar para ao pé do Coliseu, o nosso spot favorito. Está Sol, muito Sol e o Sol em Roma faz-me feliz. Ouvi dizer que vai chover um dia depois do nosso último exame, e só pára de chover quando voltarmos para Portugal. Isto é que é ter sorte...

Quando eu voltar para Portugal (eu vou mesmo voltar definitivamente para Portugal?) vou contar a toda a gente como é linda a minha cidade. Como é bonito beber e conversar à noite na Fontana de Trevi e jogar ao jogo dos papelinhos na testa em frente ao Coliseu. E vou contar a toda a gente como é bom fazer Erasmus. Mesmo as partes que não constam neste blog, por ser um meio assim tão público, assim tão impessoal.

Ouçam o que vos digo, somos uns privilegiados.

Arrivederci!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Ho troppi pensieri in un solo capo

Ciao!

Já não estou a escrever para o trabalho de semiótica, mas memso assim vou citar. Vou citar a Inês Rocha, neste caso, que diz que já não sabe falar sem ironia. Apoderou-se de nós, é um facto. Está presente nos assuntos sérios e nos menos sérios.

Um dia estamos sentadas em volta de uma mesa e alguém fala sobre um assunto sério, daqueles que peocupa, que dói e remói e faz o coração ficar apertadinho. Não sei bem onde, algures perto dos pulmões, acho.

As reacções: comentários num tom de voz baixo enquanto as cascas das tangerinas são cortadas em pedacinhos, ou com as mãos ou com a faca do jantar.

E, de repente, começamos aos gritos outra vez.Vivemos (em tempos!) no Porto, e as pessoas falam alto e têm um sotaque acentuado.

Entretanto eu vou construindo pequenas – grandes histórias, e elas também. Depois reunimo-nos, e contamos as pequenas – grandes histórias umas às outras, e, entre a ironia habitual, lá nos exprimimos como queremos. A verdade.

A verdade é que nesta casa eramos quatro meninas, mais todos os vizinhos de Erasmus à nossa volta, numa comunidade que já não era só de portugueses, mas que teria sempre como ponto de partida a Comunidade dos Portugueses em Roma. Eramos só nós as quatro e todas aquelas caras conhecidas a uma ou duas portas de distância, que já faziam parte de nós.

Curiosamente, a verdade é que nunca mais vamos ser.

Arrivederci!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Esame

Ciao!

Passaram 11 dias e eu não sei se sinto que passaram lentamente ou rápido demais. Estou confusa e cansada, mas feliz. Estou bem e hoje tenho finalmente tempo para escrever, e quero partilhar um novo mês, de um novo ano em Roma, a cidade que agora também é minha.

Pela primeira vez, festejei a passagem de ano fora de Portugal. Sem a minha família por perto, nem muitos dos meus amigos do costume, mas com alguns membros da Comunidade dos Portugueses em Roma e uma série de italianos e outros estrangeiros que tornaram esta experiência única e especial.

Em primeiro lugar, confesso-vos que os italianos são piromaníacos. Pelo menos a julgar pela quantidade de “bombas” que atiram durante todo o dia 31 de Dezembro, principalmente à noite. Quando chegámos ao Coliseu, eram cerca das 10 e meia, rebentavam foguetes por todo o lado, e o barulho era tão ensurdecedor que parecia, mesmo, que o Coliseu ia ruir. E eu, que tenho medo de foguetes, aninhava-me no meu casaco, e, entre momentos de pânico, lá me deixava levar pela animação das centenas de pessoas, partilhava bebidas e sorria para as fotografias.

À meia-noite o fogo-de-artíficio rebentou às portas do coliseu. A rolha de champagne saltou da garrafa quando contámos as 12 badaladas imaginárias, e brindámos ao novo ano. Seguimos pelas ruas de Roma e assistimos a concertos populares, no meio da multidão de italianos e turistas fascinados. Percorremos as pedras da calçada suja e envolta em cacos de vidro e lixo, rasto impressionante da festa dessa noite.

Tentámos entrar no metro mas a estação estava fechada porque tinha sido vandalizada e quase destruída. Andámos até à paragem seguinte, por volta das duas e meia da manhã, e de metro chegámos à grande discoteca que já conhecemos tão bem, onde reencontrámos as pessoas de Erasmus. Dançámos até os pés nos doerem, e porque os meios de transporte públicos estavam extremamente condicionados, acabámos a noite numa pizzaria, a conversar e a dormitar até às 8 da manhã, hora a que o metro abriu. Porque, nesta noite do ano,quase não existem autocarros, o metro abre duas horas e meia mais tarde do que é habitual, e os taxistas exploram os turistas, adicionando tarifas ridículas e exageradas, porque não há qualquer controlo.



Os pés doridos e a ressaca duraram um dia, e dia 2 começou a nossa sessão intensiva de estudo para o exame de Informática do dia 10. Ficámos literalmente enclausuradas, dias a fio, na nossa pequena casa romana, lendo e relendo frases em italiano que nem em português fariam qualquer sentido para três raparigas que estudam jornalismo, e pouco se interessam pelos CPU’s, pelas RAM’s e ROM’s, pelas linguagens de programação Java, PROLOG, PASCAL, pelas chaves simétricas e assimétricas e a sua relevância na criptografia, pelas radiofrequências a que actuam as redes WiFi e WiMax, pela conversão de números binários para hexadecimais ou decimais, pelos formatos de imagens raster ou vectorial, pela transmissão de dados por pacotes e a ATM, pela Internet dos Objectos e a sua extrema importância no nosso futuro, pelas luzes e sombras da nova economia e muitos, muitos mais conceitos que tornaram estes últimos dias uma experiência assustadora. Dei-me inclusive ao trabalho de analisar todo este processo e dividi-lo em fases!

Fase 1 – A boa vontade. Quando acordamos, de manhã, e, depois de vencido, a muito, muito, muito custo o sono inicial e a preguiça, nos sentamos em frente aos apontamentos e pensamos: “ora vamos lá começar, que isto até nem deve ser assim tão difícil”.

Fase 2 – As dúvidas. Quando nos deparamos com palavras que não conseguimos compreender, e recorremos a dicionários, ou encontramos conceitos complexos e procuramos na Internet explicações ainda mais complexas e impossíveis de entender.

Fase 3 – O cansaço. Os minutos passam a correr, e nós sem compreendermos nada, perdidas num mundo de bites e Bytes impercétiveis.

Fase 4 – As discussões / O desespero. Derivam do cansaço e dificultam a convivência normal e a aprendizagem. Gritos e pseudo-insultos fazem parte de uma fase onde ainda há pessoas que se esforçam por compreender a matéria, e outras já só querem avançar ou desistir.

Fase 5 – A esperança. Quando os nossos vizinhos, que estudam informática, conseguem finalmente fazer-nos entender o complicado mundo das redes e dos sistemas virtuais, ou quando chegamos a conclusões satisfatórias através de horas de pesquisa na Internet.

Estas fases repetiram-se, nem sempre por esta ordem, mas cada uma delas esteve presente em cada um destes dias deprimentes. O resultado? Soubemos hoje. Passámos todas, e por isso não temos de nos preocupar mais com informática.

Segunda-feira à noite saímos finalmente de casa, para comemorar. As Segundas-feiras são noites de “Locanda”, onde as festas “Any Given Monday” surpreendem sempre, e são estúpidas, e têm temas ridículos, mas nós gostamos na mesma. Acho que nunca saltei tanto, dancei tanto, transpirei tanto e me ri tanto, porque as noites assim têm um sabor especial depois de dias de enclausaramento mental.

Arrivederci!

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Capodanno

Ciao!

Último dia do ano 2010. Deixei hoje de manhã a cidade invicta, e agora estou aqui, no nosso quarto/cozinha/sala de jantar, na cidade eterna. Sensação de regresso a casa, sem menosprezar a casa portuense e tudo o que de bom, de maravilhoso me ampara em Portugal.

10 dias no país que me viu nascer, sintetizados em muita conversa, e abraços apertados e comida da mamã. Revi quem me quer bem, pus-me a par das novidades, criei novidades novas e improvisadas. Saudades, e planos, muitos planos, adiados para meios de Fevereiro, porque agora é tempo de Roma, mais mês e meio de Roma.

Infelizmente, tempo também de exames. Não falemos disso, porque hoje é o último dia do ano. Esqueçamos por momentos os dias de estudo intensivo que me aguardam a partir de amanhã, e foquemo-nos na noite de hoje.

Passagem de ano, frente ao Coliseu, no meio da multidão de romanos e turistas habituais. Imponente, sempre, durante o dia, mas mais ainda nesta noite tão aguardada. Álcool a arder na garganta, por causa do frio (cidade gelada, no Invero!), e quem sabe acabar a noite a dançar na discoteca maior e mais bonita, tão nossa conhecida, hoje com cinco pistas abertas para nós.

Mas sobre a noite de hoje, não vou especular. Vou escrever sobre ela, mais tarde.

Portugueses, meus portugueses. Espero que o vosso Natal tenha sido pelo menos tão bom como o meu. Divirtam-se esta noite.

Feliz 2011.

Arrivederci!

sábado, 18 de dezembro de 2010

Arrivederci*

Ciao!

Amanhã voo para Portugal. Voo mesmo, não com as minhas asas mas com a ajuda das do avião. É por isso que hoje as minhas estão murchas.

É uma sensação estranha. A vontade intensa de regressar à cidade invicta, à minha família e aos amigos de sempre e para sempre, a quem me quer bem. Mas, ao mesmo tempo, este medo de que tudo esteja diferente, ou então que tudo esteja igual, assustadoramente igual, e quem tenha mudado seja eu.

Eu já disse muitas vezes que para mim Roma não está à escala do Real. E a Raquel diz-nos muitas vezes que sim, que é real, que eu vivi mesmo todas estas experiências e todos os momentos passados na cidade eterna, desde o dia 3 de Setembro. Mas, lá no fundo, se calhar continuamos todas a acreditar que adormecemos, numa tarde de calor, na Praça de S.Pietro, no Vaticano, e a partir daí o tempo parou e tudo o que se lhe seguiu foi, e está a ser, um sonho.

Hoje não vou falar das festas a que fui, nem das pessoas que conheci ou dos lugares que visitei. Vou deixar-me estar quietinha em casa mais uma hora, porque amanhã a casa será diferente. A culpa foi da Vanessa, que se enganou e pôs o despertador uma hora mais cedo do que era suposto, e, portanto, eu acordei às 8 e dormi menos do que tinha planeado.

É engraçado pensar que, a partir de Terça-feira, vou acordar sempre uma hora mais tarde, durante 10 dias.

Arrivederci!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

L'albero di Natale

Ciao!

À minha volta toda a gente corre de um lado para o outro, a maior estação de Roma apinhada de gente que se quer proteger do frio junto ao calor do consumismo. Estou em frente à árvore de Natal de Termini.

No lugar de bolas de cristal, folhas de papel. Declarações de amor e cartas ao Babbo Natale. Desejos e ambições, projectos mais ou menos essencias para 2011 (que o Roma ganhe o campeonato este ano, por favor) (por favor, Babbo Natale, faz-me passar nos exames de Janeiro!).

E, no meio das vozes indistintas, uma voz conhecida. Estava tão concentrada na árvore que nem reparei que chamava por mim um amigo meu, italiano, siciliano. Reparou com certeza na minha cara, como que hipnotizada pela árvore. Não percebo o porquê desta sensibilidade, nem o que representa. Talvez seja por estar longe da minha família de sangue e ter saudades.

Ele rasga um papel em dois e eu escrevo o meu desejo, em italiano. Quero voltar a Roma um dia.

Já está o desejo pendurado na árvore de Natal de Termini.





Já tinham saudades minhas e só passou uma semana desde que vos escrevi. Anda a apoderar-se de mim o espírito natalício, e depois acontece isto: faço uma pausa no meu estudo de italiano e ponho-me a escrever em português.

A semana foi passada a preparar trabalhos para a faculdade. Pois é, tem de ser. Quarta-feira ainda fui ao cinema do ESN, e vi um dos melhores filmes italianos de que me lembro (e olhem que, com esta rotina de ir ao cinema todas as quartas-feiras ver filmes italianos antigos, até já conheço bastantes). “Indagine Su Un Cittadino Al Di Sopra Di Ogni Sospetto” é um filme de 1970 sobre o poder da polícia e a sua influência política, que aconselho vivamente.

Quinta-feira acordámos cedo e fomos à faculdade entregar um resumo das nossas propostas de trabalho para a cadeira de Semiótica. Felizmente a professora gostou do que cada uma de nós escreveu (sim, meus amigos, tudo em italiano), e deu-nos luz verde para avançar com o projecto para Janeiro. O meu tem a ver com o filme “Schindler’s List”, e a importância da imagem segundo a óptica de um determinado filósofo, mas eu depois explico-vos melhor.

Quinta-feira tem-se tornado cada vez mais noite de “Kube”, que é uma grande discoteca onde há concertos interessantes e três andares onde se ouvem músicas muito diferentes. O “Kube” não é só frequentado por estudantes estrangeiros, mas sobretudo por italianos, e por isso acabámos por conhecer alguns.

Sexta-feira foi o dia da nossa ceia de Natal, e da troca de prendas entre os portugueses. A Joana preparou bacalhau com natas para 18 pessoas, foi uma proeza incrível. No fim do jantar, trocámos as prendas que tínhamos comprado. Pequenas lembranças até cinco euros, embrulhadas em sacos do lixo pretos sem remetente, para cada um adivinhar quem lhe tinha dado o presente. A mim foi o João que me deu uma espécie de insenso muito agradável, e eu dei à Sara um gel de banho com cheiro a frutas, muito forte e muito bom.

Às 3 da manhã, a Vanessa, o João e o Camelo partiram para a Polónia, onde vão ficar até Quinta, na casa de uma amiga que também está a fazer Erasmus. Eles foram-se embora e eu estou cheia de saudades! Mais tarde chegaram duas amigas da Raquel, que a vieram visitar.

Eu passei o Sábado a passear e à procura de umas meias de vidro que ficassem bem com o vestido que a Vanessa me emprestou para a gala da noite. Sim, o ESN organizou uma gala de fim-de-ano antecipada, no dia 19, porque a maioria dos estudantes europeus vai regressar a casa no Natal. Dancei e diverti-me bastante, como é costume, mas desta vez com dores nos pés, devido aos sapatos de salto alto, na tentativa de ir vestida a rigor. Aproveito aqui para referir que a Ana me ajudou a voltar para casa ao emprestar-me as botas dela (Ana, estás aqui!), apesar de termos andado um bocado a pé com a Inês e o Alejandro (aquele nosso vizinho espanhol), porque não encontrámos o autocarro noturno. E porquê? Porque os nossos queridos vizinhos portugueses estão na Polónia, e eles sempre foram o nosso GPS. Por isso sem eles perdemo-nos mais vezes.

Foi no Domingo que escrevi o texto que inicia a minha publicação de hoje. Fui com um amigo siciliano comprar chocolates, e perdi-me a olhar para a árvore de Natal de Termini. À noite fomos com as amigas da Raquel jantar a Trastevere, onde provei uma massa com frutos do mar, e para acabar bem o dia nada melhor do que um Tiramisu de morango, no “Pompi, il Regno di Tiramisu”.

Ontem passei o dia a estudar italiano e numa aula aborrecida de Comunicação Pública.Foi por isso que não cozinhei para o Eurodinner, e a Cláudia, a Ana e a Inês fizeram as natas do céu. O Eurodinner é um jantar onde cada grupo de pessoas traz uma comida típica do seu país. E devo dizer que comi até não poder mais! Depois fomos ao Locanda (aquele bar/discoteca muito alternativo de que vos falei a semana passada), mas não voltamos muito tarde. Porquê?

Porque amanhã tenho exame de italiano. É verdade. E hoje o dia está a ser passado em casa a estudar. Com esta pequena pausa para escrever, note-se.
Agora com licensa. A gramática chama por mim.

Arrivederci!