segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Trenitalia

Ciao!

De volta a Roma, após cinco dias de viagem em comboios e noites mal passadas, de falta de banhos e pés negros da terra, de muito frio e muito, muto calor, de olheiras profundas e cabelos despenteados, de suor e de sonhos, no fundo, de descoberta. De encontro fantástico e imprevisível com a Itália do Norte.

A aventura começou na terça-feira, dia 21, às 4 da manhã. Preparadas as mochilas, saímos de casa para apanhar o autocarro que nos levaria à estação. Mas, quando chegámos à paragem, já ele estava em andamento. Ainda tentámos correr, mas já não fomos a tempo e, portanto, o autocarro seguiu sem nós. Fomos a pé, mas não havia grande problema, porque o comboio era só às 5 e 50.

Quando chegámos à estação principal de Roma, o “Termini”, descobrimos que nos tínhamos esquecido do cartão de memória da máquina fotográfica da Ana, uma máquina de grande qualidade que nos tem acompanhado permanentemente (sim, todos os dias, ou quase) desde o primeiro momento em que chegámos à cidade eterna. Por isso voltámos para trás, apanhámos o autocarro, regressámos a casa, sob risco de perdermos o comboio e o IntraRail começar da pior maneira. O que nos valeu foi termos descoberto que, afinal, o comboio partia do “Termini” mas parava numa pequena estação perto de nossa casa, para a qual corremos em plena madrugada. E assim conseguimos, finalmente, entrar no comboio a tempo de iniciar o IntraRail à hora prevista.

O primeiro local que visitámos foi Perugia. Cidade pequena, quase uma aldeia em ponto grande, com belíssimas paisagens e espaço amplo e acolhedor. A sensação de segurança em Perugia é muito maior do que em Roma, e os seus habitantes, talvez por não viverem na confusão das grandes cidades, pareceram-nos mais simpáticos e afáveis. A grande igreja do centro e o castelo foram alguns dos pontos de interesse que visitámos, mas, de facto, o que realmente me impressionou foi o horizonte a perder de vista entre o verde da natureza e as casas antigas. E, note-se, a deliciosa pizza que almoçámos e o gelado artesanal que lhe seguiu, tudo a preços extremamente em conta (ainda mais para quem vive na caríssima cidade de Roma), foram o complemento perfeito para a nossa primeira manhã de IntraRail.

Umas horas depois chegávamos a Florença, que é provavelmente uma das cidades mais bonitas em que já estive. Percorremos a cidade nessa noite e no dia seguinte, dia 22, e devo dizer que dormimos numa pensão agradável, barata e muito perto do centro. Florença perde-se entre as igrejas e os monumentos antigos, mas, sobretudo, entre as pontes e o rio que segue devagarinho entre as duas margens da cidade. Uma das pontes, a ponte Vecchio, é particularmente interessante. Imaginam uma ponte que, de uma ponta à outra, sustenta casas antigas e rústicas, muito bonitas, transformadas em reconhecidas ourivesarias? É como percorrer uma rua de ourives, uma rua de ouro, no fundo, mas com a possibilidade de nos debruçarmos sobre o muro e fixarmos o rio a correr à nossa frente, a reflectir a cidade nas águas de Florença. Cidade romântica, cidade encantada, talvez, onde encontrámos habitantes de todas as idades a assistirem a concertos de ópera, muito bem vestidos, ao bom estilo italiano.

Durante a noite viajámos até Milão, o grande centro comercial e económico de Itália. Milão é mais bonito à noite, e prima pela elegância dos habitantes e das lojas, não tanto pela beleza da cidade em si mesma. A imponente catedral do centro histórico, que é a maior catedral gótica de Itália, e as galerias Vitorio Emanuele II, reflectem a arte e o bom gosto da cidade, e são pontos interessantes que vale a pena visitar. Além disso, foi curioso percorrer as ruas repletas de lojas caríssimas, onde predominam estilistas de renome e pessoas muito bem vestidas, como se todos fossem a uma festa de gala, à ópera, quem sabe. À noite, Milão brilha, brilha mais do que de dia. Tivemos a sorte de assistir, em plena praça pública, ao ensaio de um espectáculo de dança, cuja exibição ocorreria no dia seguinte, como abertura de um desfile de moda. Os bailarinos impressionaram-nos pela positiva, e atrevo-me mesmo a dizer que foram eles que tornaram a nossa noite em Milão uma noite mais mágica, inesquecível.

Inesquecível também por outros motivos, na verdade. Adormecemos na estação, porque o comboio que nos levaria a Verona só partiria depois das 3 da manhã. Durante o período em que dormimos, roubaram o telemóvel e 10 euros à Ana. Foi um ladrão simpático, no fundo. Não levou nem documentos, nem a sua fantástica máquina fotográfica, já repleta de fotografias das 3 cidades visitadas.

Verona é a cidade de Romeu e Julieta. É uma cidade pequena mas romântica, que se percorre em pouco tempo, mas encanta. Visitámos a casa da Julieta, e tirámos a famosa fotografia junto à sua estátua. É uma casa engraçada, porque os muros da entrada estão todos escritos, cobertos de declarações apaixonadas em todas as línguas, com todas as cores. Uma espécie de romantismo dos tempos modernos; imaginem um muro todo grafitado, mas que transmite verdadeiros sentimentos e onde se inscrevem palavras bonitas de amor. Visitámos ainda algumas igrejas, e percorremos calmamente as ruas da cidade, cheias de turistas curiosos.

De Verona seguimos para Veneza. E eu não me quero estar a repetir, apesar de já o ter mencionado em quase todas as cidades que visitei, mas a verdade é que Veneza é que é, definitivamente, a cidade mais romântica de Itália. O amor está presente em todo o lado: nos longos canais que substituem as ruas apinhadas de gente, nas gôndolas muito bem ornamentadas, onde casais partilham garrafas de champanhe e se beijam apaixonadamente, nas pontes dispersas por toda a cidade, nos jantares à luz das velas junto ao rio… Enfim, no fundo Veneza só não é uma cidade romântica para quem tem pânico de água, o que, felizmente, não é o meu caso. O meio de transporte que utilizámos foi o “Vapporeto”, que é um auto-barco, ou seja, uma espécie de autocarro, que, no fundo, é o transporte público que percorre os canais da cidade. Chegámos na noite do dia 24, e pudemos apreciar toda a beleza da cidade… à chuva. Chovia torrencialmente, o que, pudemos confirmar no dia seguinte, resultou numa cidade meia inundada.

Dormimos num hostel caro, com grandes quartos partilhados por muitas raparigas, mas que incluía um óptimo pequeno-almoço. No dia seguinte já o Sol brilhava no céu azul, mas quase que se tornava difícil distinguir os canais das ruas de pedra, de tal modo que na praça de São Marcos, a mais importante praça da cidade, os turistas andavam descalços sobre a água da chuva, ou, os mais experientes, percorriam o caminho de galochas. Nós optámos por viajar bastante de Vapporeto, até porque tínhamos comprado um bilhete para os três dias, e viajar de barco é uma óptima maneira de chegar a todo o lado e conhecer Veneza e os seus canais.

Entre monumentos e praças meias inundadas, também visitámos uma praia, leia-se, muito pouco apelativa quando comparada com as lindas praias de Portugal. Isto por iniciativa própria porque, na verdade, logo de manhã tínhamos perdido o nosso guia de Itália, prenda da tia da Inês e muito útil na nossa viagem.

Deixámo-lo numa paragem de “autocarro”, ou melhor, de “auto-barco”, e, quando voltámos para o recuperar, encontrámos um papel com um número de telefone e uma mensagem de alguém que o tinha encontrado e levado para casa. Quando lhe telefonámos, descobrimos que a mulher que tinha encontrado o guia não estava disponível para nos entregar, a não ser na semana seguinte! E foi por isso que conhecemos Florença sem destino certo nem orientações turísticas.

À noite, após passearmos pelas ruas de Veneza, visitado algumas lojas e apreciado os canais, deixámo-nos ir num Vaporetto sem conhecermos o seu destino. Passámos por um cemitério que ocupava toda uma ilha; era bastante assustador mas, ao mesmo tempo, tinha qualquer coisa de fascinante e misterioso. Quando demos por nós, estávamos bem longe da estação de comboios, num local desconhecido e longe do centro. O que nos valeu foi que um motorista do Vaporetto decidiu ajudar-nos. Tinha feito a sua última viagem do dia e, depois de “estacionar” o barco, perguntou-nos: “Estão prontas para correr?” E corremos pelas ruelas de Veneza, atravessámos pontes e praças que eu nunca tinha visto, não fazia a mínima ideia de onde estava, mas a verdade, a verdade é que chegámos num instante à estação de comboio.

A ideia era irmos a Siena antes de regressarmos a Roma, mas estávamos tão cansadas que optámos por deixar essa viagem para um outro fim-de-semana, beneficiando do nosso maravilhoso bilhete que dura um mês inteiro e nos permite passear por toda a Itália. Por isso, deixámo-nos ir no comboio até Roma. Ao meu lado viajavam dois brasileiros muito simpáticos, mas eu quase não falei com eles. Porque mal entrei no comboio adormeci. E, quando acordei, estava de novo na cidade eterna.


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Gostaram da nossa aventura? Espero bem que sim, porque a meio da história já não me apetecia escrever mais. O que vale é que eu gosto muito de vocês.

A propósito, as minhas aulas não começaram hoje, porque os meus professores decidiram fazer greve. Aparentemente, só começam na segunda quinzena de Outubro.

Estou em Ersasmus ou estou de férias, afinal? ....

Arrivederci!

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